sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

D'Après Nuno Gonçalves | Museu Nacional de Arte Antiga














Ainda (2010)
No Museu Nacional de Arte Antiga, até 27 de Fevereiro de 2011

Partindo de uma hipotética projecção dos painéis de S. Vicente num plano horizontal, a obra vive da instalação de uma fila de seis estreitas caixas no chão, sem outro plinto senão quatro folhas de espelho alinhadas, impondo discretamente uma fronteira ou simples entrave à deambulação dos visitantes na sala.
Tanto quanto possível respeitadoras em escala da largura dos painéis, espessura das molduras e distância entre estas, e de altura mínima ditada pelo tamanho do conteúdo apresentado, cinco dessas caixas são transparentes e abertas, e a última, negra e fechada, oculta o interior.
Visíveis dentro das caixas e reflectidas no espelho, há hóstias, o mais singelo símbolo da comunhão na fé e na cultura de que os Portugueses fizeram bandeira para a expansão no mundo. E, tacteando uma ponte sobre o tempo, a nossa (íntima) inquietação recorda que, em latim, a significação última de hóstia remete para “vítima”, “sacrifício”, podendo propor uma reflexão contemporânea sobre o discurso dos painéis para além do sentido mais estrito dos mistérios da autoridade, dos rostos, das diferentes mangas de veludo ou da própria relíquia que o chão (nosso) sustenta, ainda.